Tudo começou com um gesto simples: um pão saindo do forno, o cheiro quente invadindo a casa, o olhar curioso de um garoto apaixonado por sabores e histórias. Esse garoto cresceu, estudou turismo, mas nunca deixou a cozinha sair do coração. Hoje, esse garoto atende pelo nome de Karliano Pereira, e é um dos nomes mais respeitados da panificação artesanal brasileira.

Karliano não faz apenas pães. Ele resgata memórias, fortalece identidades e transforma farinha, água e tempo em cultura. Com mais de 15 anos de trajetória entre fornos, salas de aula e comunidades, ele conquistou algo raro: o reconhecimento do mercado, da crítica e das pessoas. Seu talento já foi celebrado em revistas como Veja Fortaleza, que lhe concedeu o “Voto do Júri” pelos pães da Rosmarino Pães, padaria que ajudou a fundar e que rapidamente virou referência na cidade. Seus produtos, como o pão de tapioca sem glúten, o coupiac e os pães coloridos com ingredientes naturais, marcaram uma geração de consumidores e elevaram a panificação local a outro patamar.

Mas a história de Karliano vai além da vitrine da padaria. Ele é professor, pesquisador, mentor. Já passou por instituições como a Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco, UNIFOR e UNINTA, onde forma jovens padeiros não apenas com técnica, mas com propósito. Em suas aulas, falar de fermentação é também falar de paciência. Falar de ingredientes é falar de território. Falar de pão é falar de gente.

Talvez por isso tenha sido convidado a coautor de um dos livros mais importantes sobre cultura alimentar de Fortaleza, uma publicação sob a chancela da UNESCO, que celebra a cidade como Cidade Criativa da Gastronomia. Nesse projeto, Karliano ajudou a contar a história da cidade pelo pão, pelas mãos que amassam, pelos saberes que passam de geração em geração. Uma homenagem viva à Fortaleza popular, criativa e resiliente — a mesma cidade que o formou como homem e como profissional.

Quem conversa com Karliano logo percebe que ele é movido por algo maior do que sucesso. Ele fala de comida como quem fala de infância, de afetos, de cuidado. Fala com brilho nos olhos e com humildade nos gestos. Seu trabalho, embora premiado, não busca holofotes. Busca transformação. Em cada oficina ministrada, em cada curso gratuito dado em bairros periféricos, em cada fermento natural que ensina a cultivar, Karliano planta autonomia, dignidade e pertencimento.

Num tempo em que tudo parece tão acelerado, ele insiste em ensinar o valor do tempo certo da massa. Num país onde tantas culturas alimentares são apagadas, ele insiste em dar voz ao que vem da terra, das feiras, das avós, das comunidades. Por isso, mais do que chef, Karliano é referência. É símbolo de uma gastronomia com alma, com ética, com raiz.

E talvez seja justamente esse o maior fermento da sua história: um homem que encontrou na panificação um jeito de mudar o mundo — começando pela sua cidade, pelo seu bairro, pela sua gente. Porque para Karliano, fazer pão é, acima de tudo, um ato de amor.